oito ponto vinte e seis quilômetros

nunca confiei no laço que vem de fábrica.

confio nas costuras.

confio nas colas.

confio nas tintas.

nos amortecedores.

no material.

até na garantia confio.

mas já reparei que o laço é a única coisa de fábrica que não confio.

o tênis sai da caixa.

desato todos os nós.

refaço as amarrações.

quero ter certeza que sou eu mesmo quem passa cada uma das pontas do cadarço por cada um dos buracos.

os tênis eu boto nos pés porque já cansei de me confundir se é vestir ou calçar.

por isso desisti dos dois nomes e criei minha própria denominação.

saio pra correr com uma sensação muito diferente de antigamente.

correr nos dias atuais requer muito mais disposição.

as pernas levam junto cansaço desânimo bloqueios criativos problemas políticos sociais e um pouco de falta de otimismo.

coloco algo pra ouvir que segure minha atenção porque se perceber que estou correndo certamente desistirei de correr.

corro por preguiça de fazer qualquer outro exercício.

antes não era assim.

hoje é.

diferentemente dos cadarços eu não costumo sair muito fácil dos buracos que me meti.

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