desperta.dor

– eu queria dizer que tá tudo bem entre a gente.
– entre a gente tudo tá bem. o que não tá bem é a gente – ele respondeu.
– é sério. queria dizer que ainda gosto das coisas que você faz, mas você não faz mais as coisas que eu gosto – ela fala olhando o reflexo do abajur no guarda-roupa.
– o problema nunca é as coisas que a gente já fazia, mas o que a gente começa a fazer – ele fecha o livro, pinga um colírio no olho e chora simbolicamente.
– eu gostava tanto das músicas que cê ouvia, dos comentários que cê fazia, eu gostava tanto das festas que a gente ia, sabe?
– que que aconteceu com a gente? – ele tira a camiseta e abre a janela.
– fecha a janela. tá calor mas o vento é forte de madrugada e não é você que acorda pra fechar.
– cê nunca reclamou da janela aberta.
– é, você me abraçava mais no meio da noite.
– mas cê acabou de dizer que tá calor.
– a gente começou a namorar no verão.
– e agora parece inverno?
– não sei. anda tudo tão fora de época na gente.
– que horas cê quer que te acorde amanhã?
– às sete. hora de sempre.
ela ri.
– que foi?
– até sua hora de sempre não é mais a mesma.

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