quantas saudades cabem em épocas de desabraços?

o espaço é mais relativo que o tempo
quando você não precisa olhar tanto assim pro relógio.
todos os dias aumentam o número de pessoas
nas ruas. a ânsia de viver
parece ter a mesma intensidade da morte.
a cidade tem uma lápide em cada cê pê éfe.
ouço jazz repetidamente
porque a vida não me apresenta novidades
e esse é meu jeito de bater de volta.
olho pro livro em cima da estante
e tenho certeza que ele me leu
muito mais vezes
essa semana. faço exercícios
contra a vontade do meu corpo.
como só o que a preguiça sabe cozinhar. 
acordo cada dia
mais cedo. durmo
cada dia mais tarde. olhando paredes
excessivamente descobri que gosto da minha casa
mais do que imaginei. umas das poucas felicidades
dos últimos dias foi descobrir
que a medida da mesa nova que eu comprei
é exatamente a mesma da parede
até aqui. contrariando todas as leis da mobilidade.
nada encaixou
tão perfeitamente bem na rotina recente
como um móvel.

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