a vida é muito mais legal quando sobram interrogações

esses dias me peguei tentando lembrar o nome de uma obra que vi uma vez num museu. mas percebi que não consigo lembrar o nome da obra. assim como também não lembro o nome da artista, ou do artista, vai saber. e por muito pouco quase me fugiu o nome do museu. não era uma obra de acervo permanente. era uma daquelas instalações enormes que ficam pouco tempo em uma exposição temporária. a obra era muito simples. era basicamente um salão uma catraca e um macaco hidráulico. a catraca controlava o número de visitantes que entravam no salão. a catraca era ligada a uma engrenagem. essa engrenagem era ligada a um macaco hidráulico. esse macaco hidráulico sustentava duas colunas de concreto. cada coluna estava segurando uma parede lateral do salão. e era assim que a instalação funcionava. cada pessoa que passava pela catraca girava milímetros da engrenagem que abria milímetros do macaco hidráulico que empurrava milímetros as paredes pra fora. isso quer dizer que quanto mais pessoas visitassem a obra mais perto a obra estava de ser demolida por ela mesma. a essa altura do texto você talvez esteja refletindo sobre o que acabou de ler. e se não estiver te convido a escutar um pouco das interrogações que estão na minha cabeça desde o dia que passei por aquela catraca. a pessoa que criou a instalação queria mesmo destruir a obra ou só gerar uma reflexão? a pessoa que criou a obra queria que as pessoas visitassem mais ou visitassem menos a instalação? as pessoas seriam capazes de morrer pra ver uma obra? visitando a obra milhares de vezes as pessoas estão destruindo ou transformando a instalação? uma obra acabada é uma obra bem feita? quantas vezes na vida entramos em lugares que nos destroem? quantas pessoas passam em nossas catracas pra nos destruir? quando estamos destruídos quer dizer que é o nosso fim ou o nosso recomeço? essas perguntas seguem na minha cabeça até hoje e até hoje não lembro o nome da obra muito menos o nome de quem fez. mas é incrível como essa experiência ainda mexe comigo toda vez que passa pela minha memória. talvez não saber nenhuma resposta seja o que mais me intriga. a vida é muito mais legal quando sobram interrogações.

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