O dia que comecei a fumar

Chove.
Clara ainda não acordou. Deve ter demorado pra pegar no sono.

A gente tava atrasado. O bom é que da cama pro carro foi rápido.

Eu suava e tremia. Parecia até que era comigo.

Ela não abriu a boca durante o caminho. Também não falei nada. Achei que ia deixá-la mais nervosa.

Era a primeira gravidez.

Demoramos pra chegar. Se soubesse que a porra da mulher do tempo era incompetente, saia mais cedo.

Entramos.

Com hora marcada, não demoraram pra chamar a Clara.

Perdi a noção de quanto tempo durou a cirurgia.

Tô esperando a Clara sair daquela sala até hoje.

Não é justo. No aborto a gente costuma tirar só uma vida.

Comentários

Passa esse cigarro que a noite é forte.
Anônimo disse…
Belo texto, parabéns!
Unknown disse…
Triste...

Engano... cegueira...

Ele não perdeu ninguém, Clara saiu, melhor do que entrou. Só ele não viu.
No aborto morrem 3 pessoas e não uma.
Com o nascimento de uma criança, nascem também uma mãe e um pai (bons ou maus, mas nascem).

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