ficar preso no chão dos outros nunca me deixou voar

nunca virei o dançarino que eu queria ser quando era criança.
olho pra caixinha de música. é igual a que minha mãe tinha em casa.
igual mesmo.
as mesmas cores. o mesmo som. a mesma marquinha descascada do lado da tampa.
ter os pés presos pra sempre no ímã do chão.
nunca entendi direito se era o preço que se pagava por dançar tão bem.
que injusta a vida é com algumas qualidades.
na verdade a caixinha de música era minha.
mas minha mãe dizia que era dela. meu pai nunca desconfiou de nada. 
olho mais algumas coisas pela loja de antiguidades.
nada me chama a atenção.
sou advogado preso em minhas qualidades.
com os pés colados no ímã das convenções sociais.
levo pra casa a vontade de entrar numa escola de dança.
tentei grudar tanto no meu pai quando eu era pequeno que a gente acabou se repelindo com o tempo.
pólos opostos. 
hoje não sou dançarino. não sou filho.

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