Os Silvas

Os Silvas. Família classe média - baixa. Roberto, homem nada bem sucedido, recém - casado, tenta dar à esposa uma vida como sempre prometeu enquanto eram namorados. Luzinete, mulher do lar, cuida da casa como se fosse sua. Luzinete é empregada doméstica. Maria Eduarda, filha recém - nascida do casal, ainda não sabe o que vai ser quando crescer.
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Após mais um dia de busca incansável por emprego, Roberto chega em casa e encontra Luzinete na frente da TV assistindo sua quase novela. Quase, porque Luzinete interage com a trama, conversa com as personagens, chora quando eles choram, ri quando eles riem, mas, não tem o que eles têm.
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Em momentos de aperto, Roberto sempre pensa em parar de procurar emprego e trabalhar por conta, porém, dessa vez é diferente. Roberto quer fazer bico de Papai Noel, disse à Luzinete que já é Novembro as lojas estão sendo enfeitadas cada vez mais cedo e ainda não viu nenhum Sr. Noel por aí alegrando as crianças. Juntou todo sua economia e foi comprar sua “roupa da fortuna” como dizia. Para espanto de Luzinete, o bico rendeu uns bons trocados, Roberto dizia que é porque sempre teve olhos para os negócios, disse também que se deu bem porque começou a se fantasiar antes de todo mundo.
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No ano seguinte, os Silvas passaram por mais apertos, e quando o final do ano se aproximou, Roberto foi logo tirando sua fantasia do armário para dar um “trato”.
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- Roberto? Ainda é Outubro!
- Eu sei Luzinete, mas tenho que começar a fazer isso antes que os outros, essa é a alma do negócio.
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Não deu outra, novamente Roberto se saiu bem. Porém, o pior ainda estava por vir, a cada ano, Roberto tirava do armário sua fantasia um mês antes. Quando menos percebeu, Roberto estava trabalhando de Papai Noel integral, começou a trabalhar o ano todo, as lojas não tiravam mais os enfeites, os Shoppings só retocavam as luzes, mais pessoas perceberam essa fonte e se aventuraram. Roberto se sentia ameaçado e começou a investir seu dinheiro em aprimoramentos. Começou com um trenó, depois vieram as renas, cada vez mais seus diferenciais cresciam.
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O mercado também percebeu a oportunidade. Cursos de Papai Noel começaram a ser oferecidos pelas Universidades, graduação em veterinária com especialização em Renas, curso de moda para roupas de Papai Noel. Quatro anos, as primeiras turmas começaram a sair formadas e a competição com Roberto começou a ficar mais complicada. Na mosca, para não perder clientes, Roberto investiu todo o resto da economia em sua Graduação de Papai Noel e já emendou uma Pós em músicas natalinas.
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Só 20 anos de experiência e investimento na área foi suficiente para Roberto perceber que tinha entrado num barco furado, o mercado havia saturado, milhares de profissionais formados sem emprego, ele continuava na mesma condição de vida, e pior, desta vez sem reserva financeira. Roberto decide sair dessa área e vai procurar um emprego decente, afinal, ainda quer dar à esposa uma vida como sempre prometeu enquanto eram namorados.
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Mas não levou muito tempo até Roberto ter a maior sacada profissional de sua vida. Janeiro, e Roberto chega em casa com uma linda roupa de Coelho.

Comentários

Nayara Diniz disse…
Olá

Otima cronica.
Uma historia, com uma mensagem interessante, já que a competiçao para alcançar o primeiro lugar no mundo acaba tendo o efeito reverso.
Na frase "interage com a trama, conversa com as personagens, chora quando eles choram, ri quando eles riem, mas, não tem o que eles têm" , fica uma critica sobre a programaçao da tv brasileira e mundial, que em nada tem acrescentando, e sua unica funçao é a distração, dos verdadeiros problemas da sociedade como o desemprego, a falta de moradia e de perspectiva retratada pelo futuro de Maria Eduarda.
Acrescentaria ao texto a frase: "E as lojas perceberam que não precisavam mais contratar Papais Noeis, e as industrias começaram a fabricar robos que fazim todas as suas funções, desde entregar balinhas e perguntar as criancinhas: Você foi um bom menino esse ano?"


Beijo
Anônimo disse…
Hehe... tadinho dele, agora além de alimentar a mulher a filha tem que alimentar as renas...

Alguém sabe o que uma rena come?
Anônimo disse…
Boa Thiago.
Demorei pra vir ler, mas vim.
Voltarei mais vezes.
Em tempo: o Silva deveria ter se fantasiado de namorada. São elas que ganham os melhores presentes.
Abraço.
Parabéns Ti, mais uma sacada sensacional!!

Bjokass!!
Paty!!
Anônimo disse…
Tiago,

eu sou seu fã cara, desde sempre, desde a primeira vez que eu te conheci.
Cara, eu tenho um orgulho de ser seu amigo (colega ou simplesmente um conhecido), você é fera e tem um censo critico e visão de negocios e de tendencias tremenda. Gosto muito dos seus textos e sei que daqui uns anos, você terá mais reconhecimento do que já tem por aí afora.

Gostaria muito um dia de trabalhar com você em algum projeto, será uma honra.

parabens por tudo que você já conquistou e que ainda vai conquistar !!!!


abraços !!!!
Birú
Tiago Moralles disse…
Paty, você é uma fofa, obrigado pela visita como sempre.
Birú, cara, não tenho o que falar de você, super esforçado e determinado. Muito obrigado pelo comentário, eu sei que sempre que dá você passa por aqui, mas nem sempre comenta, então, valeu mesmo, fiquei super feliz.
Beijo Paty e abraço (hehe) Birú.
Natalya Nunes disse…
Oi, Ti! FELIZ NATAAAAAAAAAAAAL, mocinho! =D

Poxa, adorei esse conto...mágico e realista ao mesmo tempo...

Nada se cria, tudo se copia...
essa frase é comum no nosso meio, né?
Já posso até imaginar os supermercados lotados de ovos de Páscoa durante o ano inteiro...sem contar com o congestionamento de coelhinhos...e tudo por culpa do Roberto...haha
Eu é que nao vou reclamar.

Um beijo enorme!
Silvia disse…
Nossa isso é coisa de publicitário?

Muito bem feito e agora coelho?

Ótima sacada mesmo!

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