Questão de empreendedorismo
- Bom dia Pedro. - Bom dia Dona Carmem.
- Bom dia Pedro. - Bom dia Sra Antônia.
- Como vai Pedro? - Bem Seu Paulo.
- E o seu Corinthians ontem em Pedro? - Não jogou muito bem não, mas nada que o jogo de volta não resolva. - Quero só ver.
Era mais ou menos assim todo dia, mais ou menos porque não era sempre que tinha jogo do Corinthians. Do resto, a mesmice cuidava. Horário, 5h da manhã. Destino, Centro. Dia, de segunda a sexta para alguns e de segunda a sábado para muitos, domingo era privilégio de poucos. Esse era o caminho para o trabalho que o pessoal da vila fazia. Pedro era cobrador conhecido, também, já estava há quase 6 anos nessa linha. Desde que retornou da viagem à sua cidade natal, onde foi visitar a ex-mulher da sua vida, ex porque quando chegou lá descobriu que ela estava casada, e pior, descobriu que não era com ele. Poderia esperar tudo dela, mas gastar o dinheiro que guardaram juntos para comprar uma mercearia e nunca mais trabalhar para os outros, foi demais pra ele que sempre quis uma mulher empreendedora e batalhadora ao seu lado, voltou para São Paulo e decidiu recomeçar a vida.
Como eu ia dizendo, todos conheciam Pedro e Pedro conhecia a todos, com exceção da mulher do terceiro ponto, uma senhora que pegava o mesmo ônibus todos os dias, mas não era de papo como todo mundo, sentava lá pelo meio, isso explica o pouco contato com Pedro, que também não reparava muito, era muita gente pra conversar e muitas histórias pra saber. Em compensação, o mundo da mulher do terceiro ponto era variado, sempre tinha gente nova sentando ao seu lado, porque é assim, perto do Pedro vai à turma da conversa, no fundo vai o pessoal que prefere dormir e no meio vai o pessoal que não tem opção mesmo, menos a mulher do terceiro ponto. Aquele lugar era estratégico. Eu disse que ela não era de papo como as outras pessoas, pois o papo dela era focado, todo novo passageiro que sentava ao seu lado era logo envolto em suas confissões.
Tinha gente que não dava muita corda pra conversa, mas ela não desistia, uma mulher misteriosa, além de persistência, tinha muitas coisas na bolsa. Estranho falar que uma senhora tem muitas coisas na bolsa, parece redundante, mas tudo bem, ela tinha mesmo. Não perdia uma oportunidade de falar da sua vida pessoal e muito menos de perguntar sobre a vida dos outros, dava conselho, era intrometida, curiosa, e entre um papo e outro, fazia questão de tirar as coisas da bolsa e mostrar que era uma pessoa prevenida, tinha solução pra tudo, principalmente para as mulheres, tinha creme pra isso, tinha óleo pra quilo, e por aí vai. Quando não sabia como começar o papo, usava uma frase que considerava ótima para “ocasiões quando não se sabe o que falar”, dizia - Não é da minha conta, mas onde comprou isso? - Batata, todo mundo respondia, na verdade, mais por educação, porque ninguém aguentava essa mulher já de idade avançada curiando na vida alheia. E assim construía o papo, o fulano respondia e logo já era absorvido pela conversa envolvente e penetrante da mulher do terceiro ponto, e a vida era levada assim.
Certo dia, Pedro que estava de folga, tomou um ônibus voltando para casa, coincidentemente queiram vocês pensar assim, pois pra mim isso é o destino de todo bom empreendedor, Pedro acaba sentando ao lado da mulher do terceiro ponto, que nessa ocasião contextual não poderia ser chamada assim. Pedro como era de papo com todos e a mulher como era de papo com os que sentavam ao seu lado, inevitavelmente começaram a conversar - Não é da minha conta... - Pode perguntar moça, comigo não tem tempo ruim. - E assim o papo foi rendendo, a mulher do terceiro ponto, que a essa altura já tinha o nome conhecido, passou a ficar sabendo de toda história triste de Pedro. Pedro por sua vez ficou impressionado com o poder, da mulher que a essa altura já tinha o nome conhecido, de penetrar na vida das pessoas, viu nisso um ótimo potencial, mas preferiu não comentar o que havia percebido, isso não por muito tempo, pois, quando descobriu que o que a mulher levava em sua bolsa eram produtos Avon e que todo aquele talento era de uma empreendedora nata, Pedro logo viu que sua nova vida estava recomeçando.
- Bom dia Pedro. - Bom dia Sra Antônia.
- Como vai Pedro? - Bem Seu Paulo.
- E o seu Corinthians ontem em Pedro? - Não jogou muito bem não, mas nada que o jogo de volta não resolva. - Quero só ver.
Era mais ou menos assim todo dia, mais ou menos porque não era sempre que tinha jogo do Corinthians. Do resto, a mesmice cuidava. Horário, 5h da manhã. Destino, Centro. Dia, de segunda a sexta para alguns e de segunda a sábado para muitos, domingo era privilégio de poucos. Esse era o caminho para o trabalho que o pessoal da vila fazia. Pedro era cobrador conhecido, também, já estava há quase 6 anos nessa linha. Desde que retornou da viagem à sua cidade natal, onde foi visitar a ex-mulher da sua vida, ex porque quando chegou lá descobriu que ela estava casada, e pior, descobriu que não era com ele. Poderia esperar tudo dela, mas gastar o dinheiro que guardaram juntos para comprar uma mercearia e nunca mais trabalhar para os outros, foi demais pra ele que sempre quis uma mulher empreendedora e batalhadora ao seu lado, voltou para São Paulo e decidiu recomeçar a vida.
Como eu ia dizendo, todos conheciam Pedro e Pedro conhecia a todos, com exceção da mulher do terceiro ponto, uma senhora que pegava o mesmo ônibus todos os dias, mas não era de papo como todo mundo, sentava lá pelo meio, isso explica o pouco contato com Pedro, que também não reparava muito, era muita gente pra conversar e muitas histórias pra saber. Em compensação, o mundo da mulher do terceiro ponto era variado, sempre tinha gente nova sentando ao seu lado, porque é assim, perto do Pedro vai à turma da conversa, no fundo vai o pessoal que prefere dormir e no meio vai o pessoal que não tem opção mesmo, menos a mulher do terceiro ponto. Aquele lugar era estratégico. Eu disse que ela não era de papo como as outras pessoas, pois o papo dela era focado, todo novo passageiro que sentava ao seu lado era logo envolto em suas confissões.
Tinha gente que não dava muita corda pra conversa, mas ela não desistia, uma mulher misteriosa, além de persistência, tinha muitas coisas na bolsa. Estranho falar que uma senhora tem muitas coisas na bolsa, parece redundante, mas tudo bem, ela tinha mesmo. Não perdia uma oportunidade de falar da sua vida pessoal e muito menos de perguntar sobre a vida dos outros, dava conselho, era intrometida, curiosa, e entre um papo e outro, fazia questão de tirar as coisas da bolsa e mostrar que era uma pessoa prevenida, tinha solução pra tudo, principalmente para as mulheres, tinha creme pra isso, tinha óleo pra quilo, e por aí vai. Quando não sabia como começar o papo, usava uma frase que considerava ótima para “ocasiões quando não se sabe o que falar”, dizia - Não é da minha conta, mas onde comprou isso? - Batata, todo mundo respondia, na verdade, mais por educação, porque ninguém aguentava essa mulher já de idade avançada curiando na vida alheia. E assim construía o papo, o fulano respondia e logo já era absorvido pela conversa envolvente e penetrante da mulher do terceiro ponto, e a vida era levada assim.
Certo dia, Pedro que estava de folga, tomou um ônibus voltando para casa, coincidentemente queiram vocês pensar assim, pois pra mim isso é o destino de todo bom empreendedor, Pedro acaba sentando ao lado da mulher do terceiro ponto, que nessa ocasião contextual não poderia ser chamada assim. Pedro como era de papo com todos e a mulher como era de papo com os que sentavam ao seu lado, inevitavelmente começaram a conversar - Não é da minha conta... - Pode perguntar moça, comigo não tem tempo ruim. - E assim o papo foi rendendo, a mulher do terceiro ponto, que a essa altura já tinha o nome conhecido, passou a ficar sabendo de toda história triste de Pedro. Pedro por sua vez ficou impressionado com o poder, da mulher que a essa altura já tinha o nome conhecido, de penetrar na vida das pessoas, viu nisso um ótimo potencial, mas preferiu não comentar o que havia percebido, isso não por muito tempo, pois, quando descobriu que o que a mulher levava em sua bolsa eram produtos Avon e que todo aquele talento era de uma empreendedora nata, Pedro logo viu que sua nova vida estava recomeçando.
Comentários