Despertar
Quando Harry abre os olhos em um súbito despertar, reconhece a casa de campo da família, mas não vê no primeiro momento a carnificina que compartilha o final de semana. Ouve um gemido ao fundo e rapidamente se coloca de pé a correr em busca do reconhecimento. Cruza o grande espelho do corredor, só que a velocidade e o desespero o cegam a ponto de não perceber como o sangue pinta de vermelho grande parte de sua roupa.
A visão que tem quando chega ao quarto é de uma imensa crueldade. A mulher, semi nua e praticamente inconsciente, geme e se confunde com o vermelho que ensopa a cama. Os membros amarrados nas quatro pontas do leito, fizeram com que permanecessem ali próximo ao corpo, mesmo depois da mutilação.
O desespero tomou conta de seu interior com tanta força que não sabia o que fazer primeiro, se acudia a situação, pedia socorro ou entregava-se ao pranto de agonia. Ainda sem definir qual seria sua decisão, correu aos outros quartos e a barbárie parecia se repetir.
Não conseguia discernir a avalanche de monstruosidade que invadira sua vida de uma hora pra outra. Encontrou os dois filhos em quatro partes da casa. Parecia que aquela altura somente a mulher ainda sobrevivera, e mesmo assim, por pouco tempo se nada fosse feito. A respiração funda, que até então era o único som que conseguia emitir, deu lugar ao choro preso no peito a ao grito preso na garganta.
A primeira atitude tomada, depois de recuperar brevemente a percepção do real, foi ligar e pedir ajuda a quem pudesse atender. Voltando para o quarto onde a mulher estava, passou pela sala e pode ver o cachorro aberto, que parecia ter sido usado como cinzeiro. O sangue era visto por várias partes, inclusive, essa foi a primeira vez que percebeu sua roupa avermelhada, e mesmo assim, com o pensamento na esposa, esqueceu de conferir se ainda havia alguma parte do seu corpo de onde o sangue saia.
Chegando ao quarto, e agora um pouco mais ciente da situação, pode ver a deformação nas partes do corpo que não estavam cobertas pelo grude coagulado. Ajoelhou ao lado da cama, e em prantos segurou a mão da esposa, que mesmo se estivesse viva não sentiria. Esquecera brevemente que o braço não estava mais ligado.
Encostou a cabeça no colchão e chorando, começou a pensar em quem poderia ter feito aquilo com sua família. Por que não gravou o nascimento dos filhos. Se ainda estava na casa. Por que o deixou vivo. Por que torturou o animal. Como foi lindo o casamento. Se os para-médicos conseguirão salvar a esposa. Por que faltou na apresentação de dança da Aninha...
Em meio ao desespero e aos pensamentos vagos de sua vida, adormeceu anestesiado pela dor.
Sem saber ao certo quanto tempo ficou naquela posição, foi acordado pelo socorro e pelos policiais que já ocupavam toda a casa. O processo de reconhecimento e identificação dos corpos só não foi mais complicado, porque sempre depois do sono, Harry despertava possuído de sua segunda personalidade, e que nesse caso, foi a responsável pela festa banhada de hemoglobina.
Comentários
Há aqueles que se mutilam a cada dia. Melhor do que aos outros...
inté
Tenso, mas muitooo bom! Parabéns!
Só que fiquei com dó do cachorrinho! <3
Terror é bom, a gente se acostuma com a realidade e sofre menos.
Ella, sabia que ia ter gente defendeno o cachorrinho hehehe.
Microbeijos.
Adoro histórias com serial-killers...apesar de trágico, ficou foda esse conto...
Nós adoramos sangue.
Cara, consegui me visualizar no corredor, frente ao espelho, vendo todo o desespero dele.
O final foi 10. Custaria muito para ele acreditar que sua 2º personalidade seria a primeira a ser suspeita de todo o caso.
P.S.: Muita maldade com o cachorrinho hein.
Parabéns moço!
Beijo
Fã
Sangue inteligente, dos melhores.
Me lembrou - muito - "Clube da Luta".
Adorei xD
"Clube da Luta", pode crer.
C A R A L H O
Muito bom, nem sei o que falar...
Num crescente contínuo de suspense, adorei. Ele tinha uma segunda personalidade um tanto sádica, hein?