Plataforma
Olhava pela janela as árvores passarem cada vez mais velozes. Já havia esquecido há quanto tempo estava naquela rota constante, ficara hipnotizado pela repetição de uma natureza linear. A mente e o corpo estavam no mesmo lugar, ali, juntos e consolados. O corpo sustentava a mente e a mente sustentava o corpo com um fio de esperança. O coração não. O coração era diferente. Não estava lá. Enquanto o trem se movia a uma velocidade gradativamente torturante, o coração ficava para trás a uma distância gradativamente lamentável.
A respiração funda, ofuscava o vidro que sustentava seu rosto. Mas não o suficiente para impedir sua visão do mundo lá fora. Que apesar de cinzento como sempre, estava diferente como nunca. Gotas começaram a bater nessa moldura da realidade. A primeira delas, para qualquer um que observasse a situação, poderia ser confundida com uma lágrima que escorria sozinha e triste. O que também não deixou de acontecer. Uma lágrima caiu. E outra. E outras.
Na plataforma que ficava óbvia e tristemente mais longe, as coisas não eram nada diferentes. Lágrimas caiam de outro rosto e confundiam-se com a chuva. Um outro coração também não ficava junto de seu corpo como deveria, buscava alcançar os vagões que sumiam dos olhos daquela mulher que agora tinha os cabelos molhados pela chuva, e não mais pelo banho de despedida. Uma mulher que sabia, mesmo que não querendo saber, que a guerra é cruel. E aquele, eu te amo, dito há instantes, poderiam não mais chegar aos mesmos ouvidos.
Quanto mais rápido o trem ia, mais rápido esse futuro soldado sentia falta daquela plataforma. Havia deixado para trás muito mais do que angústia, força e saudade. Ele, só pensava em voltar, constituir uma linda família, ter filhos e viver um dia, glórias de pai. Ela, também esperava a volta dele, mas para contar um segredo ainda confidencial: naquela plataforma, ele podia não ter percebido, mas, já havia um terceiro coração na despedida.
Comentários
Detalhista, faz você se imaginnar na pele do soldado.
Congratulations.
Perdeu, preiboi. hehe
Olha só, o maninho puxando o saco hehe. Valeu Brian.
Não recomendo.
Perdão pela gafe. hehe.
Mas bem que poderia haver um quarto coração. hehe
bonito isso.
Isso só são palavras melancólicas.
Ah, mandei bem hehe, falaí?
;)
É engraçado como cada um enxerga de uma maneira diferente,eu nunca imaginaria que o 3°coração fosse de um filho,o que me veio em mente,é que ele tivesse conhecido uma outra mulher,sem saber que dali em diante ela faria parte de sua vida.
Seria legal se tivesse continuação.
Isso é o grande barato. Você quis achar que era um cara, e o Kenzo também.
Eu pensei em um filho, que também não sei se ele vai ver um dia.
E viva a imaginação.
Entra na Categoria "Crônicas e Contos" alí na coluna da direita e dá uma lido nos outros quando tiver um tempo.
Vai que você muda de opinião hehe.
Valeu pelo comentário. Eu escrevo também no blog: www.pontod.org
e decidi publicar meus microcontos também. Já coloquei seu link lá no continho.wordpress.com !
abraço!
Vou conferir o endereço que você me passou.
Abraços.
posso fazer uma pergunta?estas assistindo filmes, lendo livros ou outras coisas sobre guerra? Tem um microconto seu que também fala sobre isso.
muito bonito!
adorei
beijos Ti
Adorei o conto.
Como já li todos os comentários, vou visitar a categoria "Crônicas e Contos", mas já foi possível imagina-lo em audio-vídeo.
Vou mandar uma solicitação de direitos autorais.
Beijo
Sandra
(sua prima)
Mais contente ainda que tenha gostado.
Lê os outros sim, se tiver algum que interessar conversamos sobre direitos autorais.
Beijos.
(seu primo hehe)
abraços
inumeras historias de vida e familia começam ou terminam em momentos assim!
como os retratados no texto!
um terceiro coração com futuro incerto!
e um segundo com a mente mais incerta ainda!
adorei o conto!
muito lindo!
Fico contente que tenha gostado do conto, espero te ver mais vezes por aqui, tem coisa boa para sair do forno logo em breve.