Velha infância
A saudade da infância começou a atormentar sua vida. Não era como uma nostalgia que vinha e saia aos poucos. Dessa vez era algo diferente. Mais profundo, agudo e quase desumano.
Os sabores, os cheiros e as cores daquela época, tudo isso passou a fazer parte do seu repertório calvo, rugoso e reumático.
Parecia ouvir os gritos de todos os amigos, apesar da baixa audição.
Parecia ver a bola rolar ladeira abaixo, apesar dos graus de miopia.
Os netos nas manhãs de domingo, ajudavam a refrescar ainda mais esses devaneios temporais. Brincando, correndo e gritando por toda parte, fizeram dele um velho menos resmungão do presente e com saudade de todos os momentos passados.
A comida servida em uma papa pré-mastigada, contribuía para as lembranças remotas. Lembranças de uma época em que todas as comidas eram bem parecidas, não como as que vinham à sua boca através de uma colher monomotor barulhenta, mas uma fase um pouco mais à frente.
As cantigas de ninar ecoavam em fragmentos dentro de sua fraca mente.
Que, francamente,
era mesmo fraca.
Com ingenuidade,
a idade o fazia confundir algumas dessas letras com marchinhas de carnaval, que por sua vez, retomava-lhe os devaneios, agora por outro mundo perdido das lembranças.
Qualquer coisa diferente de sua rotina o jogava de volta para o início da vida. Fatos, rumores e até, por menores que fossem, especulações. Os brinquedos faziam falta. As brincadeiras faziam falta. E mesmo nunca tendo pensado nisto, a escola também fazia falta.
Queria correr novamente, pular, estar rodeados de amigos, cantar músicas das quais conseguia lembrar pelo menos metade da letra. As aventuras sexuais, os galanteios, os bailes, as festas, os docinhos e os brotinhos, todas as experiências juvenis misturadas em uma única memória.
Mas não.
Nada disso voltaria.
Nunca reclamou com ninguém.
Nunca demonstrou nenhum interesse visível de voltar no tempo.
Nunca demonstrou fisicamente a saudade de outrora.
Só às vezes, uma ou outra lágrima rolava preguiçosamente por seu rosto, mas mesmo assim, era confundida com um simples lacrimejar, que caia de um velho, já sem muita disposição até para chorar.
Os sabores, os cheiros e as cores daquela época, tudo isso passou a fazer parte do seu repertório calvo, rugoso e reumático.
Parecia ouvir os gritos de todos os amigos, apesar da baixa audição.
Parecia ver a bola rolar ladeira abaixo, apesar dos graus de miopia.
Os netos nas manhãs de domingo, ajudavam a refrescar ainda mais esses devaneios temporais. Brincando, correndo e gritando por toda parte, fizeram dele um velho menos resmungão do presente e com saudade de todos os momentos passados.
A comida servida em uma papa pré-mastigada, contribuía para as lembranças remotas. Lembranças de uma época em que todas as comidas eram bem parecidas, não como as que vinham à sua boca através de uma colher monomotor barulhenta, mas uma fase um pouco mais à frente.
As cantigas de ninar ecoavam em fragmentos dentro de sua fraca mente.
Que, francamente,
era mesmo fraca.
Com ingenuidade,
a idade o fazia confundir algumas dessas letras com marchinhas de carnaval, que por sua vez, retomava-lhe os devaneios, agora por outro mundo perdido das lembranças.
Qualquer coisa diferente de sua rotina o jogava de volta para o início da vida. Fatos, rumores e até, por menores que fossem, especulações. Os brinquedos faziam falta. As brincadeiras faziam falta. E mesmo nunca tendo pensado nisto, a escola também fazia falta.
Queria correr novamente, pular, estar rodeados de amigos, cantar músicas das quais conseguia lembrar pelo menos metade da letra. As aventuras sexuais, os galanteios, os bailes, as festas, os docinhos e os brotinhos, todas as experiências juvenis misturadas em uma única memória.
Mas não.
Nada disso voltaria.
Nunca reclamou com ninguém.
Nunca demonstrou nenhum interesse visível de voltar no tempo.
Nunca demonstrou fisicamente a saudade de outrora.
Só às vezes, uma ou outra lágrima rolava preguiçosamente por seu rosto, mas mesmo assim, era confundida com um simples lacrimejar, que caia de um velho, já sem muita disposição até para chorar.
Comentários
Adorei o jeito como escreves.
Beijos
Esse negócio de velhice a gente só aprende com o tempo.
como pai amoroso,
minava-lhe a
lucidez de adulto,
deixando-o entrar
na magia da inocência
infantil.
você é tão lindo, tão
profundo, Tiago!
adoro
bju
porque talvez a maioria dos vovôs sinta mais dores nostalgicas do que dores próprias da velhice.
comoveu dessa vez hein Moralles.
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Dri, chegamos lá logo menos.
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Microbeijos Vi.