Emergência, eu tô passando mal

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Tinha duas coisas que eu precisava fazer com urgência: assistir “O Escafandro e a Borboleta” e ver a exposição no Itaú Cultural, que não coincidentemente leva o nome de “Emergência!.

Vou discorrer as primeiras palavras pela exposição simplesmente por uma questão cronológica. Ao chegar naquele local, onde muitas vezes já presenciei vídeo instalações, pinturas e esculturas, deparei-me, mesmo já sabendo, com máquinas. Pude presenciar máquinas criando, agindo e interagindo comigo e os demais visitantes. Não vou comentar todas, apenas algumas que me chamaram mais atenção e que com certeza tem mais sentido com esse post.

Uma delas foi a “The Bacterial Orchestra”. Um conjunto de caixas de som acompanhadas de microfones que são formadas por células auditivas, as quais são capazes de trabalhar em conjunto e produzir sons involuntariamente, simplesmente através de um estímulo. Ao ser emitido o primeiro som em qualquer uma delas e as demais o reproduz com as distorções que melhor considerar adequada. Literalmente uma orquestra digital.

Outra interessante é a “Performative Ecologies”. São robôs suspensos no ar e aparentemente desengonçados. As máquinas giram desnorteadas a procura de um rosto amigo, isso mesmo, um rosto. Quando identificam um, fazem o escaneamento de suas feições e criam um movimento personalizado, uma espécie de performance com direito a dança e show de luzes. O movimento é arquivado e caso o rosto volte a aparecer por lá em outra ocasião, ela é capaz de reproduzi-lo novamente. As máquinas são delicadamente adoráveis, a ponto de manter em uma espécie de transe os visitantes que esperam seus rostos serem “lidos”.
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Vale comentar a bela e hipnotizante dança de um livro em um aquário. “Bachelor – The Dual Body”, que a meu ver só faltou uma bela música para acompanhar.
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Reler”, da brasileira Raquel Kogan, foi a que mais me marcou. Obra simples, sala escura, uma prateleira com livros que ao serem abertos espalham trechos narrados de textos de diversos autores. Uma experiência que somada as anteriores, como por exemplo, “RAP3” o robô artista que pinta e assina suas obras sozinho, colocou-me em uma reflexão. Até que ponto em nossas vidas ainda temos controle sobre os nossos atos?

Foi exatamente nessa experiência de dependência que o filme que eu tanto queria assistir me acertou em cheio. “O Escafandro e a Borboleta” conta a verdadeira história de Jean-Dominique Bauby, editor de revista que sofre um acidente vascular cerebral e fica totalmente paralisado, restando-lhe apenas o movimento do olho esquerdo, mas como ele mesmo diz “não lhe resta só um olho, ele ainda tem a imaginação e a consciência”, ferramentas mais do que suficientes para que possa escrever um livro de sua vida.
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O filme dirigido por Julian Schnabel, cria seu diferencial na sensibilidade que o diretor teve de entender o momento vivido por Jean-Do, e na forma de passá-lo aos espectadores, as cenas, as filmagens e a dramaticidade impregnada em cada minuto, consegue até em alguns momentos ser taxado como tragicômico. Como foi possível, um ser humano em estado vegetativo, ditar um livro sobre sua vida com apenas o movimento da pálpebra esquerda? Como é possível um livro me contar sua história? Como foi possível a mente mais forte dominar a mente mais fraca, como foi o caso dos robôs desengonçados? Ainda estou em choque emocional. Até que ponto em nossas vidas ainda temos controle sobre os nossos atos?

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