Calaboca
E chegou o dia que Ruth não sabia mais o que falar. Quase ninguém notou no começo, ela, uma mulher inteligente, madura, com voz própria e autoritária, entrou em uma mudez involuntária, da qual não sabia o início nem muito menos o desfecho.
Quando percebeu, foram só simples palavras que não saíram. Achou ser um instante de vazio intelectual, nada que fosse durar por muito tempo. Preferiu não comentar com ninguém e ficou redundantemente calada. Aos poucos, aquilo começou a incomodar Ruth que sempre gostou de falar, e que provavelmente deve ter engolido uma agulha de vitrola quando pequena, coisa que a mãe sempre dizia.
Até chegar o momento que ela não aguentou mais o barulho do seu próprio silêncio. Tentava desabafar, mas era em vão. As horas passaram, os dias passaram e tudo mais o que pudesse passar passou. Ruth já havia se perdido no tempo. Queria saber por que ninguém reparava na sua ausência de palavras.
Mais tempo passou até que Ruth percebesse que junto com ela, outras pessoas também começaram a perder a voz. Eram multidões e multidões que se multiplicavam aos montes. Mais e mais pessoas, milhares e depois milhões. A sociedade deu lugar ao convívio sorrateiro e silencioso.
Depois de todo o desgaste e sofrimento, nada mais foi necessário; de tanto guardar seus argumentos só pra ela, acabou sucumbindo ao mudismo dos povos. O que só ela notava no início, agora já não fazia mais diferença. Ninguém mais falava, ficaram todos calados e não se ouvia mais nenhuma manifestação ou ideia.
E assim, com uma forçada e torturada transição, o ano de 63 conheceu o de 64, e a democracia deixou saudades.
Quando percebeu, foram só simples palavras que não saíram. Achou ser um instante de vazio intelectual, nada que fosse durar por muito tempo. Preferiu não comentar com ninguém e ficou redundantemente calada. Aos poucos, aquilo começou a incomodar Ruth que sempre gostou de falar, e que provavelmente deve ter engolido uma agulha de vitrola quando pequena, coisa que a mãe sempre dizia.
Até chegar o momento que ela não aguentou mais o barulho do seu próprio silêncio. Tentava desabafar, mas era em vão. As horas passaram, os dias passaram e tudo mais o que pudesse passar passou. Ruth já havia se perdido no tempo. Queria saber por que ninguém reparava na sua ausência de palavras.
Mais tempo passou até que Ruth percebesse que junto com ela, outras pessoas também começaram a perder a voz. Eram multidões e multidões que se multiplicavam aos montes. Mais e mais pessoas, milhares e depois milhões. A sociedade deu lugar ao convívio sorrateiro e silencioso.
Depois de todo o desgaste e sofrimento, nada mais foi necessário; de tanto guardar seus argumentos só pra ela, acabou sucumbindo ao mudismo dos povos. O que só ela notava no início, agora já não fazia mais diferença. Ninguém mais falava, ficaram todos calados e não se ouvia mais nenhuma manifestação ou ideia.
E assim, com uma forçada e torturada transição, o ano de 63 conheceu o de 64, e a democracia deixou saudades.
Comentários
Acordar calado
Se na calada da noite
Eu me dano
Quero lançar
Um grito desumano
Que é uma maneira
De ser escutado
Esse silêncio todo
Me atordoa"
Acabei me lembrando dessa música, que acho que é do Chico Buarque, e só posso dizer que muitas vezes, o silêncio arde na garganta...
Beijo.
Fã
Fiquemos calados?
Mas enfim, concordo com o Cesar ali.
Beijo
Hj, temos direito às palavras, mas sem ninguem para ouvi-las.
Bjkas
_
Lila, mesmo calados, todos gritaram de dor.
_
Valeu Kátia.
Microbeijo.
Seja bem vinda.
abs
Concerteza 64 foi melhor com mais vozes rs!
Durma em silêncio e acorde sem voz.