Não vou me alongar
Texto publicado originalmente em Caixa de Histórias
A produção atual de conteúdo versus a falta de tempo é uma batalha que vem fazendo vítimas e mais vítimas a cada dia. É possível afirmar que passamos daquele momento do discurso palestrante sobre ”Como administrar seu tempo” e entramos numa nova fase, a de “O que colocar no seu tempo”.
O problema hoje não é mais arrumar um espaço em sua rotina, afinal ela não vai ter um espaço mesmo, então, desista disso. A prioridade é como escolher o que vai ocupá-la. Quer ler um livro? Abra mão de um filme. Quer ver um filme? Abra mão da academia. Quer ir à academia? Abra mão do sono. E assim, as necessidades diárias vão sendo revezadas.
O que me fez escrever sobre isso, foi uma discussão iniciada no Twitter há alguns dias. Tinha acabado de ler Crime e Castigo do Dostoievski, que por sinal levei um bom tempo, e fiz um comentário do tipo “Crime e Castigo é uma análise ótima e pertinente do comportamento humano, mas com páginas em excesso fora de sua época literária”. Meu objetivo não era desmerecer o trabalho, e sim, gerar uma reflexão. Pense comigo, com a velocidade que as coisas acontecem e com o volume de informação a qual somos submetidos, não é todo mundo que consegue pegar um livro, por exemplo, de 600 páginas e consumi-lo, sem deixar de lado outras opções de atividades.
Outra inferência externa que pode ser levada em consideração é o comportamento da sociedade. O consumismo e a interatividade são duas características pertinentes que nos levam a outras duas: a busca acelerada em ter alguma coisa, te traz a ansiedade, enquanto a busca acelerada em fazer parte de alguma coisa, te traz o imediatismo.
Ambas as atitudes geram pessoas desesperadas pelo todo. Queremos ver tudo, ler tudo, saber de tudo, falar de tudo, fazer de tudo e ter tudo. Aqui entramos novamente na questão “administração de tempo”. A quantidade de desejos realizáveis, não é mais compatível com o espaço ocupável do seu dia. Logo, seus desejos precisam ser realocados. Nada de arrumar um tempo, hoje, o máximo que você consegue, é trocar uma coisa pela outra.
Eu sei que o assunto ainda dá pé, mas prometi não me alongar. Afinal, provavelmente você teve que trocar alguma coisa importante pra poder ler isso até aqui.
Comentários
Ótima reflexão!
Beijos
Microbeijo.
O assunto vai além mesmo. E me pareçe que as coisas só tendem a piorar, por exemplo, aconteceu comigo hoje,ou eu lia um livro ou eu escutava as lições de inglês. O tempo está praticamente extinto.
Ótimo textp. =)
Beijo.
Fã
bjo.
Abraço.
O livro vai ficar,
nós passaremos e
o Mário Quintana passarinho
[]`s
Ainda acho que quando acabar, acaba tudo.
Abraço!
Valeu Brunão.
Administrar o tempo, colocar no tempo, imediatismo, substituir, trocar... Fico pensando, que proporções isso vai tomar futuramente?
Eu me sinto "overwhelmed" pelo tempo. O tempo todo.
Beijo, Tiago.
Com relação aos microcontos, acho que não é falta de tempo, mas uma incrível capacidade de condensar as histórias!
Carol, só foi pra fazer um média hehe.
"Ruim Camila, nunca mais faça isso. Estudo sempre em primeiro lugar" ;)
Beijomeupravocê
Obrigada pela visita.
Parece que se não usarmos o dia inteiramente, de maneira útil, foi um dia perdido. Nos esquecemos da arte do ócio criativo.
_
Erica, isso é realmente horrível.
_
Ila, querida, gostosa visita.
Microbeijos.
Esse estilo de vida contemporâneo é realmente esquizofrênico.
Gostaria de comentar sobre Crime e castigo. Entendi seu ponto. Mas eu penso que este livro foi escrito num outro contexto em que, falando de modo bem simples, havia espaço para esse tipo de literatura, altamente descritiva e longa, características as quais eram necessárias para a literatura da época.
O problema de ler Crime e Castigo hoje ou qualquer outra coisa de Dostoiévski, ou Tolstoi, etc não está nesses livros ou nesses caras, mas sim, o problema está neste ritmo de vida da contemporaneidade.
Realmente, ler esses caras hoje é uma tarefa difícil, mas, como disse, acho q o problema é outro.
Também percebo essa sede de informação/conhecimento que as pessoas tem hoje em dia. Todo mundo quer ser multimidia hoje: ler tudo, ouvir tudo, assistir tudo, escrever tudo blah blah blah... Isso realmente acontece. O que acho que deveriamos fazer é parar e pensar se toda essa informação/conhecimento são realmente necessários para nossa vida, ou se somente queremos botar pose de pessoas "cultas e eruditas."
ryan.
Obrigado por participar e trocar alguma coisa do seu tempo.
Microabraço.
Eu demoro de vez em quando, mas não abro mão de ler o Penates, viu Tiiii...
Não é em qualquer blog que a gente encontra um texto bom assim...
Beijos
Já vi pessoas "viciadas" em informação como o Ryan comentou, e realmente me assusto um pouco com elas, por uma grande parcela de momentos que valorizo precisam ser vividos em câmera lenta.
Acho q entendi errado quando li pela primeira vez seu texto.
É isso q dá quando as pessoas lêem com pressa as coisas: elas acabam não percebendo sutilezas e nuances, e acabam criando um entendimento equivocado sobre o q elas leram.
E só pra deixar claro: reconheço q sofro d todos esses sintomas discutidos até agora. tem q ser muito forte pra sustentar um comportamento de resistência a todas essas tendências loucas da atualidade contemporânea de hoje em dia.
Mas agora entendi melhor seu ponto,
tá tudo certo.
Até.
Microabraço pra ti, somos dois sofredores hehe.
_
Naty, valeu pelo carinho.
_
Vih, que bom que conseguiu uma troca de tempo hehe.
E, sim, eu tive que trocar a leitura aqui por outra coisa.. Rsrs
Microbeijo.
Ah, queria contar que ontem senti saudades de você. Olha só! Claro que isso não é nada perto de toda a saudade que you-know-who sente. e claro que são níveis e propósitos diferentes de saudade, mas enfim.
até logo, se cuida.
[j]
Sempre bom você por aqui.
Microabraço pra ti, se cuida.