Para Elisa

E nossos encontros passaram a ser fictícios.

Não no começo. No começo, na verdade, nós nem nos encontrávamos. Trocávamos mensagens que eram exercícios sintéticos e mal intencionados. Remetiam na cabeça dela, mesmo sendo comprometida, a algo romântico; mas na minha cabeça, a libertinagem dava gás aos pensamentos.

Eram mensagens curtas, longas e às vezes desconexas. Eu alimentando um desejo inviável e ela alimentando uma paixão imatura. Eu querendo algo profundo e ela buscando superficialidade. Eu torcendo por um sim e ela contente com qualquer talvez.

A comunicação foi aumentando assim como minha admiração. Passava horas pra redigir uma linha que expressasse tudo o que eu sentia. Às vezes dias pra escrever uma mensagem que deveria dizer muito mais do que minha capacidade intelectual permitia.

Aos poucos nossas palavras começaram a parecer mais íntimas. Nossos destinos tendiam a se cruzar em breve. E eu não estava errado. Foi o que aconteceu em pouco tempo. Não sei com quem começou e nem como, mas as rotinas sincronizaram, e dia e a hora foram marcados.

Lá estava. Eu, claro. Ela deveria chegar em breve. Deveria, pelo menos era esse o combinado. Atraso considerado, afinal, era o primeiro encontro, ela tinha o direito, isso não seria nenhum problema pra mim. Resisti paciente.

Ela não foi.

Fisicamente. Mas estava lá no meu coração. Cheguei a fantasiar o momento do encontro, o momento em que meus olhos veriam aqueles lábios dizendo “oi” com toda a delicadeza que a fantasia me permitia imaginar. Mas ela não foi.

Nem por isso deixei de pensar na sua presença. Nem por isso deixei de imaginar seu corpo, seu sorriso e seus olhos. Ela também não mais escreveu.

Nem por isso deixei de escrever. Nem por isso deixei de imaginar as respostas, as gírias, os jeitos e as manias. Ela nunca mais apareceu.

Nem por isso deixei de acreditar num novo encontro. Nem por isso deixei de marcar novos encontros. Continuei a aparecer, todos os dias, nas mesmas horas e sempre a via chegar. Ela nunca soube, mas foi assim que nossos encontros passaram a ser fictícios.

Comentários

Vivian disse…
...engraçado que no meu InFoco
fiz um post justamente nesta linha,
e chego aqui vejo semelhanças.

adoro isso...

adoro você, é claro!

bjbj
O Misantropo disse…
Muito bom o blog,cara!
Adorei essa platonicidade dos encontros. Sempre que puder, estarei comentando no blog.
Tiago Moralles disse…
Vou passar lá pra ver Vi.
Tô pra postar esse conto faz um tempo, ele saiu ano passado numa antologia, mas fiquei protelando pra jogar aqui. Que bom que gostou.
_

Valeu Emmerson, será sempre bem vindo.
Oi Tiago.

Na imaginação esse encontro tornou-se encantado! :-)

Muito legal!!!

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Que sua semana seja proveitosa...
Fale com quem você ama...
Mande abraços e beijos aos amigos e amigas...
Faça alguém feliz!!!
Sempre fica um pouco do perfume
nas mãos de quem distribui flores!!!
Boa semana!
Plante coisas boas que você as colherá depois.




BOA SEMANA!




♥.·:*¨¨*:·.♥ Beijos mil! :-) ♥.·:*¨¨*:·.♥



http://brincandocomarte.blogspot.com/

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Que perigo
esse amor inventado...
Mas não seriam todos, afinal?

Texto mais lindo, Tiago!

Beijo,
Doce de Lira
Tiago Moralles disse…
Cris, depois disso não tem como a semana não ser boa. Brigado pelas boas vibrações. Mil microbeijos.
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Rê, será que são todos? Será que o amor é nosso e de mais ninguém?
Ju Fuzetto disse…
E tudo se cria na cabeça. E fatalmente pode atingir o coração.

Real? Talvez mais que isso!
Adorei. beijo amigo. boa semana!
Ana Botelho disse…
Oii, gostei muito do texto, pode contar comigo aqui, já estou seguindo.

~* Esse amor ficticio não seria o pior de todos, talves o melhor, mas com certeza o melhor, neles criamos, ouvimos o queremos e aquela pessoa sempre é perfeita.

Bjokas ;*
Unknown disse…
adorei.
é, adorei mais por causa do nome da garota. mas gostei mesmo :)
Ludmila Melgaço disse…
Bem aquela coisa Cazuza mesmo:
"Adoro um amor inventado."

beijos!
Fernando Luz disse…
Todo amor tem um pouco de ficção; Esse só errou na dose. Ou não.

Sempre mandando bem, Tiago. Parabéns!

Acabei de ver que você está lendo Cuca Fundida do Woody Alen. Pois veja só a coincidência: também estou lendo esse livro.

Quando terminá-lo vou fazer algum comtentário no blog. Aí, te envio o link. :}

Abração.
Tiago Moralles disse…
Pessoas, é o amor platônico, biográfico, falso e real. De tudo um pouco. Obrigado pelos comentários.

Fernandão, manda sim, aí comento lá e não preciso escrever aqui hehe.
Barbara C disse…
Enquanto mais a pessoa some, mais ficamos na imaginação, no fictício.
Estes momentos parecem que nunca vão passar...



bj
Já pensei seriamente
nessa possibilidade...
Casa de Mariah disse…
"amar, verbo intransitivo".
lindo.
Liu disse…
Parece que do lado de cá também há um bom pedaço de ficção.

*Acho que me lembra mais Cazuza em "o nosso amor a gente inventa pra se distrair".
Tiago Moralles disse…
É Lija, Cazuza tem umas frases ótimas.
UltraViolet disse…
Belissimo texto. Acho que na atualidade, todo mundo se identifica com pelo menos uma parte dele.

Vc é talentoso.

Abraços,

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