Pobre pobre pobre

Mais um caso corriqueiro em nossa história da aviação. A companhia aérea TOM, teve mais uma queda de seus aviões, porém, nada que assuste a população, já que o número de mortos nos acidentes aéreos ainda não superou o de veículos. Só no último feriado prolongado que caíram mais aviões do que acidentes automobilísticos nas estradas, mas isso é um caso isolado, normalmente a média fica equilibrada. A diferença é que dessa vez, mesmo a população já estando acostumada com várias quedas, uma história chamou atenção justamente por virar polêmica, é caso de uma família classe F da sociedade.

Dona Mercedes, que nunca teve dinheiro suficiente para usufruir de mais do que duas xícaras de café quente por mês, recebeu a notícia que seu marido estava entre os corpos de mais um rotineiro acidente aéreo, obteve a informação graças a um novo programa biológico do governo para controle de natalidade e obituários. O vôo 35468HGFTS655354OHBYJ46876546 da companhia TOM, que vinha de uma viagem de 30 minutos do outro estremo do globo terrestre, teve problemas novamente nas turbinas de freio e não conseguiu parar, acertou dessa vez algumas casas e prédios comerciais, um deles abandonado estava prestes a ser demolido, o que foi para os consultores imobiliários um grande adianto por parte da economia nas despesas de demolição.

Dona Mercedes e seu maridão, Seu Alberto, sempre foram muito amigos, amantes e unidos, apesar da condição financeira que não lhes permitia desfrutar de algumas regalias, mesmo que gratuitas, ela mal pode acreditar em tal notícia. Assim que tomou conhecimento pelos veículos de comunicação, desatou a chorar, foi um escândalo tão alto que chamou a atenção inicialmente dos vizinhos, depois dos amigos da comunidade, e não demorou muito para os gritos e o choro alcançarem as autoridades. Ninguém acreditava naquilo, diziam os vizinhos – como pode, todos estão tão acostumados com essas mortes em acidentes aéreos, isso não deveria ser nenhuma surpresa pra ela – e Dona Mercedes continuava o choro. Uma multidão se mobilizou com a tristeza da podre mulher, pobre mesmo. Para se ter noção da tristeza e da comoção, até as televisões quiseram cobrir a história e o governo para parecer mais simpático, exigiu que a companhia aérea devolvesse o corpo para Dona Mercedes, quem sabe a mulher não consegue vender pelo menos a aliança do casamento, mal sabiam eles que a aliança já havia virado alguns pratos de farinha na época de vacas gordas.

Com todo o sensacionalismo causado pela mídia, o caso teve que ser resolvido logo pela empresa responsável e por todas as partes envolvidas. Um mutirão de bombeiros e o pessoal da equipe de resgate começaram o cansativo trabalho de remoção dos 5.232 passageiros do avião. Coisa que deveria levar aproximadamente uns 5 dias, acabou demorando mais, devido aos outros milhares de corpos que estavam sendo encontrados entre os escombros das construções atingidas pelo acidente. Mas no meio dessa bagunça toda, em meio a tantas agitações nos noticiários, uma boa surpresa acontece. Um bombeiro descobriu o corpo de Seu Alberto, mas a surpresa era maior ainda, o defunto não pertencia aos passageiros do avião, foi encontrado na verdade, junto aos destroços das construções, bem exatamente onde era o lugar de um Motel, e pior ainda, foi encontrado grudado ao corpo de uma mulher. Com toda a cautela deram um jeito de passar a notícia para Dona Mercedes, que além de ser pobre, já não vinha muito bem da saúde, só que disseram para não se preocupar, provavelmente o marido só estava tentando salvar a pobre moça. Dona Mercedes após receber a notícia, entrou em um estado de calmaria sublime, cessou-se o choro e acalmaram-se os gritos, pode enfim ter certeza que nunca esteve errada, o filho da puta do seu marido podia ter outra mulher, mas no fundo no fundo nunca andaria de avião sem convidá-la.

Comentários

Anônimo disse…
hahaha muito bom! =)
Tiago Moralles disse…
Que bom que tenha gostado, estou buscando sempre melhorar as crônicas.

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