Marola

Conta-se aqui, que coisa de muitos anos atrás, viveu em beira mar, moça com beleza a causar gigantesca inveja, caso existissem moradores suficientes na região litorânea.

Apesar de sua rotina simples e apesar ainda mais do minúsculo vilarejo, nunca chegou próximo do mar. Uns achavam ser superstição familiar, outros, os mais interessados na beleza, achavam ser ciúmes hereditário. E mesmo com todo o cuidado que rodeava essa fina linha carnal da perfeição, alguns ainda conseguiam flertar a menina pura.

Com olhar simplório, delicados gestos e sem intenção, ela fascinava quem a olhasse, mas não correspondia a troca de olhares e muito menos dava isso a entender, apenas vivia, e nada mais era necessário.

Enlouquecendo todos os moradores, aos poucos foi crescendo e dobrando beleza. Se é que era possível aumentar. Inveja, desejo e cobiça, proporcionalmente também aumentavam.

Como a vida não é aliada de nada, morreram anos depois, os pais da moça, que viu-se sozinha em seu pequeno mundo. A necessidade de buscar vida fora dele e a curiosidade para descobrir o além das terras de família, fez com que cruzasse os limites terrenos.

E esse foi o dia da redenção.

Todos, sem exceção, pararam para observar beleza que se materializava em mulher.

O primeiro sonho: conhecer aquilo que os pais chamaram toda vida de mar.

A passos lentos e hipnóticos, seguiu em direção ao fim da areia. Os pés tocaram a imensidão de água em um momento único, sublime e romântico, tanto pra ela como para a borda do oceano, que, até aquele dia, estática, desconhecia o significado de movimento e marola.

Até hoje, acredita-se que o mar vem a praia milhares de vezes durante o dia, em formato de ondas, na busca cegante e apaixonada de rever a moça, que naquela mesma noite, foi morta pelos moradores, consequência da inveja de beleza alheia.

Comentários

Gordinha disse…
E o nome dela era Malena! Que bonitinho, gostei dessa!

Abraços
=D
Tiago Moralles disse…
Na verdade eu não pensei em nome nenhum, afinal, lenda é lenda hehe, pode ter acontecido com qualquer um.
Gessica Borges disse…
Tenho uma amiga que vai adorar esse conto.

Dezoito anos depois do nascimento, tocou o mar pela primeira vez na semana retrasada.

Romântica que é, vai rapidinho se encaixar no espírito da sua personagem.

Que bonito, homi!

Beijo*
Tiago Moralles disse…
Valeu Fernando, principalmente pela visita.
_

Gé, passa pra ela o link, quero ver o que ela vai achar.
Fernando Segredo disse…
Valeu Tiago!
Obrigado pela visita no blog. Estou atualizando novamente.

Abs
Silvia disse…
É doce morrer no mar,
Nas ondas verdes do mar!

Achei lindo.
Tiago Moralles disse…
Ficou agradável né?
Apesar que não resisti, e tive que entristecer o final hehe.
Gessica Borges disse…
Ela é meio analógica sabe..
Vou imprimir, levar pra ela, e te conto a reação/opinião, pode deixar ;)
Victor Carvalho disse…
Tudo era bonito, delicado e suave. Aí ela morre. Hehehe.
Belo texto, Tiago (aproveitando o espírito).
Tiago Moralles disse…
Bem no espírito hehe.
Kenzo Kimura disse…
Tudo tem a sua primeira vez. Pena que para ela também foi a última.

Legal o conto, Tiagão. Parabéns, meu velho.
Tiago Moralles disse…
Valeu Kenzo.

Ah, descobri quem é Sandro Silvestre hehe, depois a gente conversa.
Nayara Diniz disse…
"Histórias que nos contam na cama, antes da gente dormir"
Tiago Moralles disse…
Ana e o mar, Mariana.
Total inspiração.
Iasnara disse…
muito sentido. isso sim é final feliz.
Tiago Moralles disse…
Um final feliz com duplo sentido.

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