Amor suburbano

Como parte do cotidiano, a luz vermelha é acesa, e uma multidão vai se unindo, cada um esperando o seu momento.

Vultos que buscam suas posições, confundem rapidamente minha visão.

E na busca de liberdade visual, meus olhos são presos por aquela beleza.

Com movimentos desacelerados, mesmo assim, consegue fugir de toda minha velocidade.

A brisa, agora, assume um outro aroma quando cruza aqueles cabelos.

O tempo que deveria congelar, passa a ser mais rápido, e aquela caixa com duas luzes, começa novamente a dar sinal de mudança.

Agora é a vez do verde.

Os corpos são deslocados para frente, coordenados por uma rotina fria.

O corpo dela começa a fugir da minha visão, e dos outros sentidos também.

E ainda assim, sinto o rastro de seu aroma entre os obstáculos humanos da cidade.

O resquício visual do contorno de um corpo, que inferioriza os outros, ainda se faz presente no meio da multidão.

Mas, pouco a pouco, o brilho que reflete naquela pele, vai desaparecendo.

Já quase não é mais possível acompanhar o trajeto. As pessoas não imaginam que ali acontece um romance, e assim tomam minha frente.

Sua velocidade e minha necessidade aumentam, da mesma forma que a distância entre os nossos corpos.

Quando menos se percebe, ela desaparece no aglomerado humanóide, e, como o encontro; em fração de segundos; o desencontro.

Nunca mais aquele semáforo será mesmo.

Saudades prematuras.

Comentários

"Saudades prematuras."

Expressão curiosa...
As saudades,
comumente,
são póstumas.

E sim:
aquele semáforo
nunca mais será o mesmo
- ainda que haja
um reencontro...

Um beijo,
doce de lira
Mônica disse…
Que vontade de saber escrever com o mesmo gosto que você! Parabéns pelo dom expresso. Beijo e boa terça chuvosa.
Tiago Moralles disse…
Ah lira, que nossos encontros comentarísticos rendam boas e velhas inspirações.
_

Terça chuvosa eu sei que foi do coração Monica.
Beijo.
Natalya Nunes disse…
Uau!
Que encantador esse conto...

Acho que todo mundo já passou por algo parecido...
a brisa se torna ventania...
o dia se torna noite...
a tristeza se transforma em alegria...
a liberdade apreende...
a visão inebria...


Parabéns, Ti!
Desejo a vc muita muita muita inspiração SEMPRE! ;)
Victor Carvalho disse…
É por essas e outras que um bom vagão de metrô sempre será o ideal para os apaixonados.
Abraço!
Gordinha disse…
Isso me lembrou o final de efeito borboleta.

Será que algum dia eles vão se conhecer?

Bjs!
=D
Tiago Moralles disse…
Valeu Naty.
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Victor, coincidências a parte, semana que vem entra um de vagão.
_

Gordinha, podiam fazer um curta né hehe.
Anônimo disse…
Muito bom!
Curioso, um conto no semáforo, no Dia Mundial Sem Carro, eheh. Abraço!
Daiana Geremias disse…
Ah, que coisa linda...
"As pessoas não imaginam que ali acontece um romance, e assim tomam minha frente..."
Já senti isso algumas vezes...
Belo texto!
Tiago Moralles disse…
Valeu Lineuzinho.
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Pedrão, falaí, oportunismo né hehe.
_

"Brigado" Dá.
Iasnara disse…
incrível como o cotidiano muda, e como isso só depende do olhar diferente.

riqueza de texto.
Dane disse…
Poxa, tão bonito que até dói.
Tiago Moralles disse…
O que falar desse cotidiano heim, Dane e ISA?
Isso sim é que doi.
Beijos.
Moni Saraiva disse…
Encontrei teu blog através do "Doce de Lira"...

Os sentidos se aguçam nesse texto... Tem cor, tem movimento, dá até pra ouvir uma buzina logo ali atrás, quando o sinal se abriu...

Adoro isso!

Um abraço...
Tiago Moralles disse…
Nossa, como o detalhe da buzina deu carne ao texto.
Bem vinda Moni.
Um beijo.
Batom e poesias disse…
Fantástico!

"As pessoas não imaginam que ali acontece um romance, e assim tomam minha frente."

Adorei
Rossana
Tiago Moralles disse…
É, parece que essa passagem foi boa hehe.
Beijo Rossana, seja bem vinda.
Silvia disse…
Vc escreve com uma leveza,tornando a leitura sempre gostosa.Na medida exata,tudo que é bom ao mesmo tempo que sacia,deixa o gosto de quero mais!Lindo.

Já protagonizei e presenciei vários romances,paixões instantaneas nos vagões da vida,dentre meus passatempos preferidos no tédio do aglomerado e trânsito,além de música e leitura,é criar(tentar adivinhar)e escutar as histórias dos passageiros,às vezes fico rindo dos meus pensamentos idiotas,olhando pras pessoas sem perceber e algumas retornam o riso,acham que estou sorrindo pra elas.
Tiago Moralles disse…
Ah, Sil.
Gostinho de quero mais?
Guentaí, logo logo vem mais.
Talita Prates disse…
"Saudades prematuras" é LINDO!

Bjo.

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