Trabalho decente

Niht Club,
sinalizava a fachada.
Assim mesmo,
com o g apagado.
Ali embaixo,
ganhava a vida,
uma prostituta semi analfabeta,
que nunca deu falta disso.
Por sinal, sabia de poucas coisas,
uma delas era que nem todos tinham como pagar o prazer de neon,
e assim sobravam clientes.
Sabia também que os que trocavam sempre de carro,
eram casados,
que os que passavam de vidro aberto, braço pra fora e na maioria das vezes com som alto,
só queriam aparecer, já que não tinham como pagar.
Conhecimentos empíricos e involuntários.
O destino foi justo com ela apesar da injustiça que fazia com o corpo.
Anônima nos prazeres,
Carla era conhecida como microempresária pelos vizinhos da vila onde morava.
Tinha dinheiro,
era comunicativa,
independente
e trabalhava no centro comercial,
na área nobre,
frequentada só por gente boa de grana.
Perto de um tal “Clube Nit”, como ela dizia.

Comentários

Ribeiro Pedreira disse…
"viver nessa longa avenida de gás neon (...) falsos sonhos nessas noites de verão"
Tiago Moralles disse…
Falsos sonhos, verdadeiras vidas.
As doloridas inversões.
Microabraço Ribeiro.
Iasnara disse…
enquanto Carla continua investindo corpo e alma no negócio... fico pensando nos que são fodidos no trabalho e não ganham por isso.
Mariah disse…
e afinal o que importa: o SER ou o PARECER?
Dani Brito disse…
De que adianta uma profissão onde se ganha muito dinheiro e se perde o valor? No poder dividir as angústias por medo de ser recriminada, e cultivar um imenso vazio dentro de si. É muito triste não ter amor por si próprio, é como um buraco imenso no peito.
Moska de Bar disse…
Elas sempre são. Pena que nem sempre estão. Belo retrato de quem fabrica alegrias entre as pernas.
Tiago Moralles disse…
Boa opinião Moska, é triste a realidade inventada na cabeça de quem é irreal.
Valeu pelos comentários pessoal.
Fernando Ramos disse…
Muito a percepção acerca dos casados! Hehehe.

Li A Arte de Caminhar nas Ruas do Rio de Janeiro, Rubem Fonseca e Zeca Fonseca dia desses. E há uma cena com prostituta a qual me lembrei imediatamente que descreveu que ela é semianalfabeta. Recomendo o livro.

Abraços!
Tiago Moralles disse…
Anotadíssimo Fernando, valeu.
FêZinha disse…
Pra muitas pessoas, mais vale o que dizem ser... do que realmente
são. Gostei do passeio por aki, voltarei mais vezes. ;)
Ana Marques disse…
E quantos não ganham com a ilusão do corpo?

Quantos não se vendem todos os dias e apenas não o percebem dessa forma?

Mudar o nome de lugar, não muda a condição. Mas muda a forma como a sociedade o vê.

Carla sabe disso. A gente também, né?

Excelente texto. Beijo doce.
Tiago Moralles disse…
Obrigado pela visita Nanda.
_

Aninha, bem verdade heim.
Microbeijos.
Érica Ferro disse…
Só Carla sabia quem de fato era Carla.
E isso, no fim, basta.
Flor de sal disse…
"Orquídeas do despudor[...]
Dálias cortadas ao pé
Corolas descoloridas
Enclausuradas sem fé,
Ah, jovens putas das tardes
O que vos aconteceu
Para assim envenenardes
O pólen que Deus vos deu"

Ah! o Vinícios e os vícios.

Beijos Tí
Unknown disse…
Não importa o Ter nem o PARECER- e sim o ter fácil.

inté
Angélica disse…
Inverção de valores mata vários tipos de amores.

Beijo
Fico aqui.
Tiago Moralles disse…
Será Diu?
_

Mata e desmata.
Fica sim Angélica.
Microbeijo.
Silvia ♥ disse…
Dos prazeres analfabetos sem o .G!
Nessa fábrica ilusória de dinheiro e prazeres instantâneos, fica díficil saber quem é mais vazio, se é quem produz ou quem alimenta.
Mas muitos por aí andam vendendo bem mais que o corpo, sonhos e honestidade à si, por conta desta felicidade cifrada $.
Bom, 'Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é'. Né?

Ps:Lembrei do Soneto do Prazer Efêmero, de Bocage.
Anônimo disse…
Me lembrou um pouco os textos do Mutarelli.
Muito bom.

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